sábado, 15 de junho de 2013

SONDAGEM DA ESCRITA E SUGESTÕES DE ATIVIDADES



Sondagem
da escrita
As investigações sobre a psicogênese da língua escrita
 permitem ao professor atuar como um mediador eficaz no
processo ensino-aprendizagem
      Considerando que no atual Ensino Fundamental de nove anos, o primeiro ano não se destina unicamente
à alfabetização, porque ele é tido como uma possibilidade real para qualificar o ensino e a aprendizagem
dos conteúdos tanto da alfabetização quanto do letramento, logo no início do segundo bimestre, faz-se fundamental realizar uma avaliação diagnóstica (ou sondagem da escrita) para constatar o que as crianças já sabem ou aprenderam desde o início do ano letivo. Com esse processo, a partir das pistas obtidas, o professor passa a conhecer as hipóteses de escrita elaboradas pelos próprios alunos e, dessa forma, poderá planejar atividades mais significativas e ainda organizar duplas e grupos de acordo com as necessidades de cada criança.

 Finalidades da sondagem

Como subsídio para o professor, ela se destaca como um instrumento para analisar as hipóteses de grafia infantil durante atividades lúdicas, que coloca a criança diretamente em contato com desafios da escrita. Consequentemente, a sondagem que deve ser feita individualmente, sempre com palavras e atividades inéditas, possibilita:
 
• Conhecer o que a criança pensa de forma geral sobre a escrita;
• Saber qual a lógica que ela utiliza no momento de escrever;
• Perceber se ela sabe por que está escrevendo e para que está escrevendo.

Hipóteses da escrita infantil, segundo Emilia Ferreiro

Crédito: caixinhamágicadeideias.blogspot.com/
Elas podem ser classificadas em:

Pré-silábica: subdividida em dois níveis, nessa fase, a criança não traça o papel com a intenção de realizar o registro sonoro do que foi proposto para a escrita:

a) Nível 1 – Ela apresenta baixa diferenciação entre a grafia de uma palavra e outra, por isso costuma escrever palavras de acordo com o tamanho do que está representando. Seus traços são semelhantes entre si e, muitas vezes, nem ela consegue identificar o que escreveu leitura instável. Algumas vezes, usa como estratégia o pareamento de desenhos com as palavras para poder ler com mais segurança, o que também pode caracterizar certa insegurança ao decidir que letras usar. Essa dificuldade acontece porque ela ainda não compreendeu a função da escrita e ainda confunde a escrita com desenhos.
 
b) Nível 2 – Embora já saiba que há uma quantidade mínima de caracteres e que seu emprego é necessário para a escrita, a criança ainda tenta criar diferenciações entre os grafismos produzidos, a partir do arranjo das letras que conhece (por poucas que sejam), mas sua escrita continua não analisável.


Crédito: caixinhamágicadeideias.blogspot.com/
Hipótese silábica: ela começa estabelecer relações entre o contexto
sonoro da linguagem e o contexto gráfico do registro. Sua estratégia é a de atribuir a cada letra ou marca escrita (uma letra,
pseudoletra ou até um número) o registro de uma sílaba falada, pois começa a perceber que a grafia representa partes
sonoras da fala. No entanto, ainda enxerta letras no meio ou final das palavras por acreditar que, assim, está escrevendo corretamente. Nessa fase, seu maior conflito são as palavras monossílabas para ela é necessário um número mínimo de letras para cada palavra.


Crédito: caixinhamágicadeideias.blogspot.com/

Hipótese silábico-alfabética: como a criança utiliza ambas as hipóteses de escrita (pré-silábica e silábica) ao mesmo tempo, ela vivencia um momento de transição.
Nessa fase, os avanços só podem ocorrer mediante informações que possibilitem o refinamento da aprendizagem relativa ao valor sonoro convencional das letras, além de oportunidades de comparação dos diversos modos de interpretação da mesma escrita.


Crédito: caixinhamágicadeideias.blogspot.com/
Hipótese alfabética: ela já venceu todos os obstáculos conceituais para a compreensão da escrita – cada um dos
caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba – e realiza sistematicamente uma análise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever.
Também já perdeu o medo de escrever (que ocorre com a maioria das crianças quando iniciam a escolaridade), contudo ainda não domina as regras normativas da ortografia. Apesar dessa subdivisão, o tempo necessário para a criança avançar de um nível para outro varia muito. Mas sua evolução pode ser facilitada pela atuação significativa do professor, que deve estar sempre
atento às necessidades observadas em seu desempenho, para lhe propor atividades adequadas que a conduzirão ao nível seguinte. Logo, o processo de alfabetização não é imediato, ele tem diversas etapas e se dará ao longo dos anos subsequentes do Ensino Fundamental.

Periodicidade da sondagem

        Para acompanhar as etapas de evolução e aprendizagem de cada criança, a avaliação diagnóstica deve ser feita com regularidade – uma vez a cada 15 dias ou uma vez por mês. Durante a aplicação do processo, apenas dite para que os alunos possam escrever da maneira que acreditam ser a correta. Nunca interfira na
grafia de nenhum deles, pois é a análise da forma individual de escrever que determina o nível em que cada criança se encontra e seus consequentes avanços.

 Anote

       Após a avaliação da primeira sondagem, divida a criançada de acordo com o nível apresentado e, então, passe a aplicar as sugestões de atividades que seguem para agilizar o processo de aprendizagem. Mas observe o desempenho de cada uma delas durante os exercícios e se, necessário, dedique alguns minutos a algumas, preferencialmente de forma individual. Após a segunda sondagem, para obter sucesso no processo, remaneje os grupos conforme a evolução individual dos alunos.


                      Sugestões de atividades para o nível pré-silábico

 • Liste o nome de todas as crianças no quadro ou em cartazes.
• Faça com que cada aluno identifique seu nome e, depois, o de cada colega, para que eles percebam
que nomes maiores podem pertencer às crianças menores e vice-versa.
• Classifique os nomes pelo som inicial, em ordem alfabética ou em galerias ilustradas com retratos ou
desenhos.
• Crie e aplique jogos com nomes (dominó, memória, boliche, bingo etc.).
• Peça para a criançada fazer a contagem das letras e o confronto dos nomes.
• Confeccione junto a eles gráficos de colunas com os nomes seriados em ordem de tamanho (número de
letras).
• Repita essas mesmas atividades, utilizando palavras do universo dos alunos, tais como rótulos de produtos ou recortes de revistas (propagandas, títulos, palavras conhecidas etc.).
• Após desenvolver esse trabalho em sala de aula, aplique essas sugestões durante a sondagem.

 Sugestões de atividades para nível silábico em diante

• Organizar listas de palavras com o mesmo tema (animais, flores, alunos ausentes etc.), que deve ser iniciada com as palavras polissílabas, depois trissílabas, dissílabas, monossílabas e, por último, uma frase com referência ao campo semântico utilizado (por exemplo: dinossauro, girafa, vaca, boi / a vaca está pastando). Em seguida, dite essas mesmas palavras para que as crianças as escrevam.
• Introduza jogos e brincadeiras com palavras (forca, cruzadinhas, caça-palavras etc.).
• Em conjunto com as crianças, elabore um dicionário ilustrado (com desenhos, adesivos ou recortes de
revistas) com as palavras aprendidas.
• Sugira que elas façam um diário da turma, relatórios de atividades ou projetos com ilustrações e legendas.
• Proponha atividades em dupla (um dita e outro escreve), a reescrita de histórias, pesquisas de canções, parlendas e trava-línguas.
• Após desenvolver esse trabalho em sala de aula, aplique essas sugestões durante a sondagem.

 Atividades para todos
os níveis de escrita

 O lúdico pode ajudar a criança a alfabetizar-se, escrever e interpretar
textos, a partir do momento em que ele a torna espectadora e
interlocutora de atos de leitura e escrita.

 Para que o aluno dos anos iniciais do Ensino Fundamental realmente se alfabetize, ele precisa estar imerso em um ambiente rico em materiais que apresentam variedade de suportes gráficos e diversidade de gêneros de textos. Portanto, além dos livros e apostilas didáticas usadas pela própria escola, introduza atividades lúdicas complementares que o farão aprender brincando! Durante a seleção dessas atividades, dê preferência às que façam a criançada tomar contato com todas as letras, palavras e textos simultaneamente. No início, apresente e introduza alfabetos móveis – tanto maiúsculos quanto minúsculos – para que as crianças possam manipulá-los e, dessa maneira, tomar contato com o formato de cada
uma das letras. Aos poucos, estimule-as a formar palavras com os alfabetos, para que memorizem de forma global as que lhes são mais significativas (seu nome, nome dos colegas, professora, pais etc.). Ainda durante a atividade, faça as correções necessárias e, então, aproveite a ocasião para propor a composição de palavras mais complexas, para exercitar o raciocínio infantil em relação à escrita.

 Sugestões para o 1º ano

Ainda utilizando os alfabetos móveis, proponha:

• A análise da constituição das palavras quanto à letra inicial, final, quantidade de letras, as que se repetem, letras que podem ou não iniciar palavras e as que podem ocupar outras posições nas palavras.
• A formação de nomes próprios com letras móveis.
• A associação de objetos a palavras.
• A observação dos aspectos sonoros das letras a partir das iniciais das palavras significativas.
• A distinção entre letras e números.
• O reconhecimento da forma e da posição dos dois tipos de letras (maiúsculas e minúsculas).
• A identificação da primeira letra das palavras no contexto da sílaba inicial.
• A contagem de letras das palavras e, em seguida, o desmembramento oral das palavras em suas sílabas.
• Um jogo da memória, no qual o par deve ser composto pela escrita da mesma palavra em letra bastão e cursiva.
• Um bingo de letras, no qual as cartelas devem conter letras variadas do tipo bastão, cursivas e as duas juntas.
• Um bingo de palavras, no qual as cartelas devem conter palavras variadas escritas com letras do tipo
bastão, cursiva e as duas juntas.

Sugestões para o 2º ano

 A partir da leitura de textos de conteúdo já conhecido, proponha:
• A distinção entre discurso oral e texto escrito.
• A identificação de letras e palavras conhecidas.
• A produção de pequenos textos com palavras conhecidas, a leitura em voz alta do que foi produzido e as correções necessárias.
• A composição e decomposição de palavras em suas sílabas.
• A observação das letras que faltam para se completar uma palavra ou uma frase simples (trabalho que pode ser feito com textos lacunados).
• A organização de palavras, frases e pequenos textos.
• A construção de frases e pequenos textos com novas palavras.
• Um jogo dos sete erros, a partir de um texto conhecido, no qual deve haver a substituição de sete palavras por outras, que não façam parte dele e ainda o deixem com um sentido dúbio.

 Sugestões para o 3º e 4º ano

 Introduza a leitura de textos variados para, em seguida, propor após a audição:
• A compreensão e reprodução, tanto oral quanto por escrito, do que foi absorvido.
• A leitura individual do texto escolhido, visando à observação das palavras e à colocação dos sinais
de pontuação.
• A identificação e a exploração de novas palavras, seguida pela comparação entre semelhanças e diferenças, com as já conhecidas.
• Um jogo dos sete erros, no qual deve haver a substituição de sete palavras, por outras que estejam escritas de forma incorreta.
• A listagem de sinônimos para determinadas palavras que forem grifadas no texto original.
• A listagem de palavras pertencentes ao mesmo campo semântico.

Fonte: Guia Prático para Professores de Ensino Fundamental I, ed. 94
PNL 2013
www.escalaeducacional.com.br/pnld2013